As mudanças climáticas têm efeitos diretos e indiretos na saúde humana, impondo novos e crescentes desafios aos sistemas de saúde em todo o mundo. O aumento da poluição atmosféricabem como a frequência e intensidade de Eventos extremoscomo ondas de calor, tempestades e incêndios florestais, contribuem para o aumento de algumas doenças respiratórias, cardiovasculares e infecciosas. O impacto recai sobre hospitais e unidades de saúde, que enfrentam maior demanda e custos crescentes.
Entretanto, o problema vai além. O próprio setor de assistência à saúde é um grande emissor de gases de efeito estufaconsumindo enormes quantidades de energia e gerando resíduos em larga escala. Hoje, responde por quase 5% das emissões globais, principalmente devido ao uso intensivo de eletricidade e para queima de combustíveis fósseis em sua complexa cadeia de suprimentos. Se fosse um país, seria o quinto maior emissor do planeta, à frente de nações como Brasil e Japão.
Enquanto tenta reduzir os impactos ambientais, o setor começa a se preparar para um cenário cada vez mais instável. Eventos climáticos extremos têm comprometido infraestruturas hospitalares ao redor do mundo — inclusive no Brasil — com grande potencial de interromper o fornecimento de insumos essenciais e dificultar o acesso da população aos serviços médicos.
Diante desse cenário, as comunidades médica e científica têm se mobilizado para buscar e discutir novas soluções. No último Congresso Europeu de Radiologia, realizado em Viena, na Áustria, tivemos quase 20 mil participantes, com uma árvore plantada para cada um deles. A sustentabilidade e as mudanças climáticas foram escolhidas como o tema central do encontro.
No centro do debate, o fato já conhecido de que exames para geração de imagens médicas representam um dos maiores consumidores de energia e uma das principais fontes de resíduos em qualquer sistema de saúde.
Em um dos painéis do evento, do qual participei como convidado, as tecnologias digitais e a inteligência artificial foram apresentadas como poderosas aliadas na descarbonização do setor de saúde. Soluções inovadoras que reduzem o tempo de aquisição de exames e otimizam a eficiência energética dos equipamentos demonstraram potencial para minimizar o impacto ambiental da geração de imagens médicas sem comprometer a qualidade dos diagnósticos.
O grande desafio para os próximos anos é garantir que essas e outras estratégias de sustentabilidade, já utilizadas por alguns serviços e grupos no Brasil, sejam ampliadas para o sistema de saúde em geral. Afinal de contas, tornar os sistemas de saúde mais sustentáveis e resilientes não é mais uma opção — é uma necessidade urgente.
* Ari Araujo é médico radiologista e líder de Inovação e Pesquisa do Grupo Fleury
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