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Brasil se prepara para lançar o primeiro caça supe…

by samurai007@@
Brasil se prepara para lançar o primeiro caça supe...

O primeiro caça supersônico construído na América Latina logo estará na cabeceira da pista de decolagem. Ponto alto de um bem-sucedido contrato de transferência de tecnologia internacional, o Gripen F-39E feito no Brasil está programado para desbravar os céus brasileiros no segundo semestre. Será um feito e tanto para a indústria nacional, com repercussão global. O país avança em uma rota inédita de deter conhecimento para produzir um avião de defesa — e de ataque — que voa na escala match 2, ou duas vezes a velocidade do som, na linguagem aeronáutica. Duas unidades industriais especialmente construídas pela Saab, em São Bernardo do Campo, e pela Embraer, em Gavião Peixoto, ambas no estado de São Paulo, formam o eixo de produção. A multinacional sueca montou, ainda, o Centro de Ensaios em Voo do Gripen e o Centro de Design, na Embraer, ambos exclusivamente voltados para o programa. Os planos são tornar esse cluster, ampliado por uma dezena de empresas parceiras, um hub de construção dos caças para outros países. No mês passado, Colômbia, Peru e Portugal manifestaram interesse na compra do avião, que, além de voar a 2 450 quilômetros por hora, driblou radares e superou adversários em recentes exercícios aéreos.

Trata-se, de fato, de uma trajetória notável. “Esse é o maior programa de transferência de tecnologia já realizado pela Saab e a maior exportação já feita pela Suécia em todos os tempos”, diz Mikael Franzén, vice-presidente de Negócios Aeronáuticos da Saab e Gripen. “Nos últimos dez anos, treinamos 350 profissionais brasileiros em nossa fábrica em Linköping (sede mundial da companhia), na Suécia. Estimamos entre 10 000 e 13 000 empregos diretos gerados no Brasil, tanto na Saab como nas empresas parceiras Embraer, Akaer, AEL Sistemas, Atech e outras.” Nessa cadeia produtiva, a fábrica da Saab faz as peças pesadas, enquanto a da Embraer executa a montagem do aparelho. “A parceria entre Embraer e Saab para desenvolver o Gripen é um exemplo de colaboração com resultados significativos”, comunicou, em nota, a companhia brasileira. “Unimos habilidade e experiência para alavancar ainda mais o potencial da indústria nacional.”

Com base em São José dos Campos, a Akaer é um exemplo sem retoques do efeito que o contrato de 4 bilhões de dólares, para a entrega de infraestrutura e 36 aeronaves — oito delas já no Brasil —, pode gerar quando há produção compartilhada. A companhia especializada em sistemas de defesa evoluiu de 75 para 700 funcionários nos últimos anos. “Participar do programa Gripen é um marco em nossa história”, diz o presidente da Akaer, Cesar Silva. “Foi a oportunidade de aplicar o nosso conhecimento em engenharia em um projeto de classe mundial e absorver tecnologias estratégicas. Isso nos projetou como um parceiro confiável no cenário internacional”, completa o líder da empresa, que mantém negócios em vinte países.

No solo: o Gripen é capaz de voar de São Paulo ao Rio de Janeiro em apenas doze minutos (Bianca Viol/Grpen/.)
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Nos últimos tempos, o Gripen passou a ser reconhecido como um caça com ótima tecnologia embarcada, custos baixos de manutenção e alta confiabilidade. A capacidade de pouso e decolagem em pistas inferiores a 600 metros de extensão é uma qualidade exclusiva do aparelho. Em velocidade máxima, voa de São Paulo ao Rio de Janeiro em doze minutos. “O Gripen se mostrou uma bela escolha da Força Aérea Brasileira”, diz o ex-ministro da Defesa, Nelson Jobim. “O caça é um sucesso mundial.”

A percepção positiva sobre o supersônico militar ganhou novas dimensões após o evento conhecido como “Exercício Cruzeiro do Sul”, o Cruzex, organizado anualmente pela FAB e que contou com a participação de 3 500 militares. Em dezembro último, a partir da base de Parnamirim (RN), o Esquadrão Gripen, liderado pelo tenente-coronel Ramon Fórneas, sobressaiu nos confrontos que envolveram cinquenta caças controlados por pilotos de dezesseis nações. O feito mais comentado foi a vitória do Gripen no combate direto contra os poderosos F-15C dos Estados Unidos. Cautelosa, a FAB comenta apenas que “o desempenho ficou acima das expectativas”, como resume o coronel Fórneas.

A cabine: o avião militar é reconhecido pela qualidade da tecnologia embarcada
A cabine: o avião militar é reconhecido pela qualidade da tecnologia embarcada (Paulo Rezende/Gripen/.)
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O mercado de defesa está aquecido. No início de abril, a LAAD, maior feira do setor na América Latina, bateu no Rio de Janeiro recorde com delegações de 68 países e 400 expositores de artefatos de guerra. O atual conflito comercial patrocinado pelos Estados Unidos e a postura errática do presidente Donald Trump abalam as bases de antigas alianças entre países. Considerado um caça de geração 4.5, o Gripen tem feito sombra até mesmo aos F-35 americanos, que prometem invisibilidade total a rastreamentos. Na rede de intrigas que perpassa o mundo de negócios bilionários e da política, o governo americano convocou a Saab para explicar ao Departamento de Justiça do país o contrato brasileiro, após ver seus caças serem preteridos. Do outro lado, rumores disseminados na Europa lançaram suspeitas sobre a existência de um “botão secreto” nos caças vendidos pelos Estados Unidos, espécie de chave-­geral que poderia ser desligada a distância.

Em 1982, a Força Aérea da Suécia abriu um concurso para a escolha de um nome para um caça em desenvolvimento. Venceu a comissária de bordo Helena Sillen. Ela justificou Gripen como um derivado do inglês Griffinque define uma criatura mítica com cabeça, bico, garras e asas de águia, mas corpo de leão. “A lenda diz que esse nome junta força e sabedoria”, afirma Mikael Franzén. No mundo real, sustentados nessas duas pilastras, os negócios da Saab avançam. Hoje, com 175 de seus caças, em três versões, comprados por sete países, a companhia aposta em uma nação tropical para vender muito mais. Ou seja, a decolagem do Gripen brasileiro para o mundo está autorizada.

Publicado em VEJA, abril de 2025, edição VEJA Negócios nº 13

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