Dorival Júnior chegou ao Corinthians e entregou duas vitórias em duas partidas. Os 100% de aproveitamento funcionam como alento para o treinador, após passagem frustrante pela Seleção Brasileira.
Em entrevista exclusiva, Dorival abriu o jogo sobre o que entende ser um dos motivos para a saída da Amarelinha. Na opinião do treinador, o problema é o imediatismo, que vem minando trabalhos não só como o dele, mas de outros comandantes brasileiros.
Infelizmente, nós trabalhamos com imediatismo e isso acontece em todos os nossos clubes. Isso vem penalizando, na minha concepção, o futebol brasileiro
Dorival Júnior
Sem oba-oba no Corinthians
Ainda que os 100% de aproveitamento neste início de trabalho seja importantíssimo, o momento é de cautela para Dorival e companhia. O que sobrepõe as vitórias são os ajustes no time principal.
“É muito pouco, apenas uma semana. Estamos tentando aproveitar o máximo possível o tempo, procurando mexer e orientar todos os jogadores”, revelou o treinador.
O comandante explica que, assim como em outros trabalhos, é crucial recuperar a confiança de jogadores que não vinham sendo utilizados por Ramón Díaz, como é o caso de Igor Coronado, autor de um dos gols na vitória sobre o Internacional.
Fala, Dorival! 📋🗣️#Vaicorinthians pic.twitter.com/iswiilaied
– Coríntios (@Corinthians) 4 de maio de 2025
Identificar problemas, solucioná-los com o elenco e se adaptar às características dos principais atletas: esse é o modelo Dorival.
“Alguns jogadores não vinham sendo aproveitados – o que é um fato normal, eu respeito as posições de cada comissão técnica que esteja trabalhando. Mas alguns não vinham sendo aproveitados. Em todas as equipes, eu me adaptei à equipe. Nunca chego com sistema pré-estabelecido. Prefiro identificar o que tenho à mão e depois empregar um sistema”, disse, antes de completar:
“De um modo geral, a grande função do treinador e sua comissão técnica é provocar no atleta uma situação como essa, em que você apresente sugestões, desenvolva com trabalhos e o dia-a-dia, e se aplique durante os jogos. Eu fico feliz de, em todas as equipes que eu tenha passado, sempre (ter) mudado a nossa forma de trabalho, o desenvolvimento das nossas equipes, nunca repetindo as formas de jogar”, explicou.
Um dos mais vitoriosos dos últimos anos
O currículo de Dorival Júnior é um dos mais imponentes do futebol brasileiro. Dono de mais de dez títulos, o comandante está no topo do cenário do futebol nacional há algum tempo. A lista de conquistas é extensa.
“Para mim, é uma satisfação poder ter deixado um pouco em cada uma dessas equipes, sempre com portas abertas, e também é prazeroso poder trabalhar ao longo de anos e anos não só com equipes que chegaram em grandes competições, atingindo grandes resultados, como também, e principalmente, em equipes que estavam em zona de rebaixamento e que, pelo trabalho de todos, conseguimos, ao final das competições, os resultados que esperávamos”, finalizou.
- Campeonato Catarinense 2004 (Figueirense)
- Campeonato Cearense 2005 (Fortaleza)
- Campeonato Pernambucano 2006 (Esporte)
- Campeonato Paranaense 2008 (Coritiba)
- Campeonato Brasileiro Série B 2009 (Vasco)
- Copa do Brasil 2010 (Santos)
- Campeonato Paulista 2010 e 2016 (Santos)
- Recopa Sul-Americana 2011 (Internacional)
- Campeonato Gaúcho 2012 (Internacional)
- Campeonato Paranaense 2020 (Athleto)
- Libertadores da América 2022 (Flamengo)
- Copa do Brasil 2022 (Flamengo)
- Copa do Brasil 2023 (São Paulo)
Veja outros pontos abordados na entrevista exclusiva
- Você recebeu elogios da torcida, da mídia e até dos jogadores, como o Yuri Alberto que, depois da partida, disse que você ainda vai ter bastante ideia ainda pra implementar, acrescentar nas variações, mas que já tem ajudado bastante a equipe a estar mais perto de conquistar grandes títulos. Disse ainda que os jogadores sabem da sua grandeza, da experiência que você teve agora na Seleção, e, por isso tudo, tem muito respeito por você. Como é ouvir o elogio do prestígio, mas principalmente de suas variações táticas?
“De um modo geral, a grande função do treinador e sua comissão técnica é provocar no atleta uma situação como essa, em que você apresente sugestões, desenvolva com trabalhos e o dia-a-dia, e se aplique durante os jogos. Eu fico feliz de, em todas as equipes que eu tenha passado, sempre (ter) mudado a nossa forma de trabalho, o desenvolvimento das nossas equipes, nunca repetindo as formas de jogar. Isso tudo sempre tentando conhecer rapidamente o seu grupo, o seu elenco e tentando desenvolver o melhor trabalho possível. Para mim é uma satisfação poder estar com o tempo ganhando a confiança de cada um dentro do nosso grupo de trabalho, assim como, aos poucos, da própria torcida, que vai nos conhecendo um pouco mais com o passar do tempo, e se Deus quiser, com bons resultados.”
2. Dorival, ao comandar o Corinthians contra o Internacional, na Neo Química Arena, você igualou o recorde do Cuca como técnico que dirigiu mais times na Série A desde o início da era dos pontos corridos, em 2003. São 16 clubes dirigidos na série A do Campeonato Brasileiro de pontos corridos. O quanto isso mostra a regularidade de sua carreira e o quanto se tem que ter paciência e tempo para um trabalho acontecer?
“Eu fico muito feliz porque, em cada equipe que nós trabalhamos, alguma coisa ficou marcada. Prova que já voltamos em várias equipes grandes do futebol brasileiro, por duas, até três vezes. E isso, para mim, é marcante. Uma passagem importante na minha carreira. Eu espero poder retribuir a confiança depositada tanto da diretoria, quanto dos atletas, da própria comissão fixa do clube, assim como, e principalmente, do seu torcedor, que sempre espera muito da equipe e do seu comandante. Para mim, é uma satisfação poder ter deixado um pouco em cada uma dessas equipes, sempre com portas abertas, e, para mim, é prazeroso você poder trabalhar ao longo de anos e anos não só com equipes que chegaram em grandes competições, atingindo, graças a Deus, grandes resultados, como também, e principalmente, várias equipes grandes que estavam em zona de rebaixamento e que, pelo trabalho de todos nós, conseguimos, ao final das competições, os resultados que esperávamos.”
3. Em cima da pergunta de cima, você exaltou após o jogo a resiliência do Corinthians na virada contra o Inter. E talvez, até pelos números da pergunta anterior, ‘resiliência’ parece ser uma característica muito evidente sua. Até que ponto a cultura do futebol precisa ‘saber sofrer’, para que os processos comecem a acontecer e os resultados virem?
É muito difícil no momento como este que nós estamos vivendo dentro do país, falarmos que nós teríamos processos respeitados e que esses processos, com o tempo, nos levarão a resultados. Infelizmente, nós trabalhamos com imediatismo e isso acontece em todos os nossos clubes. Isso vem penalizando, na minha concepção, o futebol brasileiro. Vem tirando a possibilidade de trabalhos muito mais regulares e equilibrados e penalizando consideravelmente todos nós, profissionais, público de um modo geral. Isso, para mim, tem sido aquilo que vem mostrando uma faceta do que o futebol vem apresentando nos últimos anos.
4. Mexidas táticas: Bidu se destacou, Yuri, Ramalho, Coronado e outros. Quando um time é bem treinado, todos bons jogadores se destacam. Você mexeu muito bem nos dois jogos e ganhou os dois. Essa era uma cobrança da torcida do Corinthians. Gostaria que falasse um pouco sobre isso.
“Eu não posso dizer que nós já temos uma equipe treinada. Não, ao contrário, nós estamos trabalhando para que isso aconteça. É muito pouco, apenas uma semana. Estamos tentando aproveitar o máximo possível o tempo, procurando mexer e orientar todos os jogadores. Alguns, naturalmente, não vinham sendo aproveitados – o que é um fato normal, eu respeito as posições de cada comissão técnica que esteja trabalhando. Mas alguns não vinham sendo aproveitados, nós estamos tentando motivá-los, buscando, assim, colocarmos todos os jogadores em condições de estarem brigando em igualdade de condições pelos seus espaços.”
5. O torcedor do Corinthians pode esperar novas vitórias fáceis ou vai entendendo o espírito resiliente do treinador, que gosta de trabalhar jogo a jogo, construindo, junto com todos os departamentos do clube (médico, fisiológico, motricidade, estatísticas) a equipe ideal para entrar em campo? Lembrando que, em alguns momentos, nos trabalhos de Flamengo e São Paulo, você foi criticado por poupar jogadores para não se lesionarem e os colocarem no momento certo. O tempo e os títulos provaram que você estava certo?
“É impossível que qualquer equipe do futebol brasileiro responda às dificuldades que todos enfrentarão (em comparação) àquelas equipes, naturalmente, que disputem mais do que uma competição. Só para vocês terem uma ideia, ao longo deste mês agora, de maio, nós estaremos jogando dez partidas, a cada dois dias e meio nós estaremos em campo. Com jogos um pouco mais longos, viagens desgastantes, voltas pela madrugada, retornos de partidas, chegando pela madrugada, e no dia seguinte já estando em campo, ou para uma recuperação, ou para um novo treinamento, até porque mais um dia e nós estaremos novamente em campo. Então as pessoas têm que ter uma ideia do que é o desgaste e do que representa a recuperação no futebol. E infelizmente não mensuram no momento de definirem pelo trabalho de um ou outro profissional. Mas quanto mais nós conhecermos, massificarmos a informação é natural que as pessoas passaram a dar uma atenção um pouco maior. É muito complicado que você consiga colocar jogadores em uma sequência muito grande. Até porque o pouco tempo de recuperação vai provocando uma sequência de desgastes, aonde os levará a possíveis lesões. Quando nós falamos em mudarmos de uma rodada para outra, é justamente isso. Para que você tenha uma equipe fisicamente sempre recuperada, uma equipe fisicamente respondendo, até porque os jogos são muito físicos e as dificuldades para aquela equipe que já entra em defasagem é muito maior.”