O que aconteceria se todos os moradores de um local se reunissem para pintar suas casas de cores chamativas, Pois estes lugares existem – e a BBC selecionou alguns deles. BBC – A rua Aldama em San Miguel de Allende, na região central do México, foi indicada pela revista Architectural Digest como uma das mais belas do mundo BBC – Getty Images Como fazer esta seleção? De bairros a povoados ou grandes cidades, existem tantos lugares pintados com belas cores espalhados pelo mundo que é um prazer mostrar alguns deles. Mas excluir outros traz um certo mal-estar. Um destes locais irresistíveis está no alto desta reportagem: San Miguel de Allende, na região central do México. Seu nome sintetiza sua história. A cidade foi o primeiro assentamento da Coroa espanhola no que hoje é o Estado mexicano de Guanajuato. Ela recebeu o nome do seu fundador, o monge franciscano Juan de San Miguel. O nome Allende foi acrescentado em 1826, em homenagem a Ignacio Allende (1769-1811), herói da revolução contra a Espanha, nascido na cidade. Suas igrejas e inúmeras construções coloniais transformaram San Miguel de Allende em monumento histórico nacional do México. E, em 2008, a Unesco declarou a cidade como Patrimônio da Humanidade. A revista Condé Nast Traveler já declarou San Miguel de Allende como a “Melhor Cidade Pequena do Mundo”, em diversas ocasiões. Mas, para nós, a questão são suas cores. No centro histórico, é quase impossível olhar para algum lado sem encontrar uma paleta vibrante e maravilhosa. Fachadas pintadas predominantemente em tons quentes e terrosos, como vermelho, rosa, amarelo, laranja e terracota, adornam suas ruas e praças pavimentadas com pedras. BBC – Detalhe de San Miguel de Allende, no México BBC – Getty Images Aqui estão outros locais espalhados pelo mundo, conhecidos pelas cores vibrantes das suas construções. Guatapé, Colômbia BBC – Os moradores de Guatapé coloriram a cidade e desenham sua história nas paredes BBC – Getty Images Com suas ruas serpenteantes e suas casas pintadas em tons alegres e padrões caleidoscópios, Guatapé é um lugar encantador. Tanto é verdade que a cidade foi um dos locais da Colômbia que inspiraram os desenhistas da Disney para criar a estética da animação Encanto (2021). Situada nos Andes Ocidentais colombianos, seu nome significa “pedra elevada”, em quéchua. Trata-se de uma referência à Pedra do Peñol, um monólito de 220 metros que se eleva nas proximidades. Desde o início do século 20, seus moradores decidiram não só deixar a cidade repleta de cores, mas também contar a sua história, representar sua cultura e mostrar sua natureza. Por isso, a base das fachadas das casas foi preenchida com ilustrações de animais, flores, frutas, paisagens e cenas cotidianas. BBC – Pinturas e artefatos coloridos ao longo de uma escada em Guatapé, na Colômbia BBC – Getty Images Valparaíso, Chile BBC – Em Valparaíso, as cores tomaram conta da cidade BBC – Getty Images Conhecida como a Joia do Pacífico, Valparaíso, no litoral do Chile, é uma cidade portuária que se desvanece no intenso mar azul. Seu centro histórico, com ruas pavimentadas com pedras e casas pintadas de cores vivas, foi declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 2003. Mas as cores adornam toda a cidade, incluindo seus 45 morros. Para percorrê-la, é preciso subir e descer as encostas, muitas vezes cobertas pela imaginação caprichosa de inúmeros artistas de rua. Mais do que um lugar repleto de grafites, costuma-se dizer que Valparaíso é uma ampla galeria ao livre, com obras de arte que refletem a cultura chilena em um arco-íris de inúmeras cores. A arte conquistou aos poucos a cidade e seus habitantes. No início, os moradores apagavam as obras das paredes e os artistas voltavam a pintar. Mas, com o passar do tempo, as criações começaram a ser valorizadas. Os donos das telas de concreto começaram a oferecer suas paredes e até pagar aos artistas mais destacados pela decoração. BBC – Escadas usadas como telas pelos artistas em Valparaíso, no Chile BBC – Getty Images La Boca, Buenos Aires, Argentina BBC – Escadas usadas como telas pelos artistas em Valparaíso, no Chile BBC – Getty Images A história da Boca começou a ser escrita com a fundação da capital argentina, Buenos Aires, em 1536. A região recebeu este nome porque fica no local onde o rio Riachuelo desemboca no rio da Prata, formando um porto natural. Mas o capítulo das cores chegou no final do século 19, quando inúmeros imigrantes, em sua maioria de Gênova, na Itália, ali desembarcaram ao chegarem à Argentina. Muitos deles se assentaram na região, construindo suas casas com a madeira e as chapas metálicas que tinham à mão. As moradias abrigavam muitas famílias e começaram a ser chamadas de conventillos (o equivalente a “cortiços”, em espanhol). Conta-se que a explosão de cores que caracteriza este famoso bairro da capital argentina não foi intencional. Sem muito dinheiro para decorar suas casas, os recém-chegados aproveitavam qualquer resto de tinta dos navios que chegavam ao porto. Suas cores variadas e chamativas deram ao lugar uma marca muito particular que caiu no gosto das pessoas. Por isso, a ideia se mantém até hoje. Kinsale, Irlanda BBC – Kinsale, na Irlanda, parece uma cidade cenográfica BBC – Getty Images No condado de Cork, no sul da Irlanda, existe um lugar com um toque de fantasia. Kinsale é uma pequena cidade litorânea com menos de 6 mil habitantes. Ela inclui ruínas históricas e excelentes restaurantes. Mas o que mais chama a atenção no local, competindo com o azul do mar e o verde exuberante dos campos à sua volta, é sua rede de estreitas ruas medievais, rodeada de casas e lojas pintadas com as cores mais brilhantes. Cestas e vasos de flores completam o lugar, que parece o cenário de um alegre conto de fadas. BBC – As cores vibrantes das casas formam um belo contraste com o céu nublado de Kinsale. BBC – Getty Images Ilha de Burano, Itália BBC – Burano é famosa pelos seus bordados e pelas cores das suas casas BBC – Getty Images Burano é composta por quatro ilhas menores, separadas por três canais e unidas por diversas pontes. Ela fica na lagoa de Veneza, na Itália. Em comparação com a atmosfera melancólica da vizinha cidade de Veneza, Burano é um carnaval permanente. Suas casas resplandecem com suas cores intensas. Seguindo um costume de décadas, seus moradores renovam a pintura a cada dois anos, para manter seus tons vibrantes. Cada residência precisa ter uma cor diferente das vizinhas. Se alguém quiser pintar sua casa do mesmo tom ou mudar de cor, deve obter primeiramente a aprovação da prefeitura local. E, a mais de 700 km dali, fica outro lugar na mesma sintonia. BBC – Casas tradicionais espetaculares enfeitam as margens do rio Lauch na Pequena Veneza, na França BBC – Getty Images Conhecida como Petite Venise (a Pequena Veneza da França), o canal do rio Lauch na cidade de Colmar é um tesouro medieval da região francesa da Alsácia, perto da fronteira com a Alemanha. As intrincadas estruturas de madeira típicas da arquitetura da região se destacam pelas suas cores… muitas cores! As casas e as pontes também são adornadas com flores e plantas de cores vibrantes. Bo-Kaap, Cidade do Cabo, África do Sul BBC – A região de Bo-Kaap já foi conhecida como o bairro malaio da Cidade do Cabo BBC – Getty Images Bo-Kaap é um dos bairros residenciais mais antigos da Cidade do Cabo, na África do Sul. Ele data de meados do século 18, quando as tribos aborígenes da cidade resistiram à escravidão holandesa. Os colonos se viram obrigados a trazer pessoas escravizadas da Malásia e da Indonésia. Elas eram alojadas em casas alugadas em Bo-Kaap, fazendo com que o local ficasse conhecido como Bairro Malaio. Originalmente, todas as fachadas das moradias eram brancas. Mas, depois da abolição da escravatura no país, em 1834, os antigos escravizados passaram a ser proprietários. Eles pintaram as casas com tintas coloridas, em tons pastéis e brilhantes, para expressar sua libertação e independência. BBC – As cores da libertação BBC – Getty Images Kampung Pelangi, Indonésia BBC – Uma camada de tinta embeleza uma região marginalizada BBC – Getty Images Kampung Pelangi, na Indonésia, também é conhecida como Aldeia Arco-Íris. Ela fica ao sul da cidade de Semarang, no centro da ilha de Java. Antes, a aldeia se chamava Gunung Brintik. Era um bairro marginalizado e desorganizado, com cerca de 325 casas com descuidadas paredes vermelhas, onde cresciam plantas silvestres. Mas, em 2017, o local mudou de nome e de aparência. Isso foi possível graças a um projeto criado após o término do plano de melhoria de um mercado de flores em frente à aldeia. As autoridades esperavam que o local se transformasse em um novo destino turístico. Mas elas perceberam que a aldeia não estava à altura do mercado. Por isso, o governo indonésio sugeriu aos moradores pintar suas ruas e casas precárias com tintas coloridas. Com isso, aquele povoado anônimo passou a marcar presença nas redes sociais da Indonésia e de outros países.
8 dos lugares mais coloridos do mundo
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